Segundo o IBGE, em 2021, 56,1 % da população brasileira se autodeclarou preta ou parda (IBGE, 2021), enquanto no Estado de Mato Grosso esse percentual era de 69,4 %.. Este mesmo contingente, mais da metade da população brasileira ou do Estado de Mato Grosso, frequentemente não têm oportunidade de se reconhecer - ou não é reconhecida - no processo histórico de constituição do povo brasileiro, pois, ao longo de cinco séculos, a presença e a participação de pretos, pardos e indígenas foi silenciada, invisibilizada, diminuída ou distorcida.
Em enfrentamento a esta realidade, nos de 2003 e 2008, foram publicadas as Leis 10.639/03 e 11.645/08 que alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, instituindo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena em todo currículo nacional. (CORSINO, CONCEIÇÃO., 2016). Cabe mencionar que, a Lei de Diretrizes e Base da Educação já trazia a obrigatoriedade do estudo da história e cultura Afro-brasileira e Indígena, no seu vigésimo Artigo VI, em 1996 (BRASIL, 1996).
Nesse contexto, uma atividade com a temática trasnversal da ancestralidade negra e indígena pode proporcionar aos acadêmicos da Licnciatura em Educação Física um contato com a sua ancestralidade e com a ancestralidade da maioria de seus futuros alunos, permitindo um processo formativo antirracista de docentes antirracistas.
Há de se reconhecer que a ancestralidade se manifesta no corpo orgânico e, nesse ponto, são fundamentais as contribuição das discussões sobre a unidade biológica da espécie humana, herança genética e variações de aspectos fisionômicos nas populações humanas (cor da pele, tipo de cabelo, formato de nariz e lábios, estatura, disposição de pelos corporais, etc.), propiciadas pelas disciplinas de Fundamentos Biológicos da Educação Física e de Anatomia Funcional.
A ancestralidade também se manifesta nos sentidos históricos e culturais pelos quais se percebe e se interpreta o corpo e pelos quais se constitui a identidade cultural presente no cotidiano das mais diferentes atividades dos adultos e das crianças, inclusive nas brincadeiras e jogos infantis. Para tais discussões recorreremos às disciplinas de Abordagens Socioantropológicas da Educação Física e de Teoria dos Jogos e brincadeiras.
Para crianças e jovens em idade escolar, o presente trabalho pode fomentar uma mudança de conceitos, discursos e práticas a partir da desconstrução das imagens e conceitos referentes à ancestralidade negra e indígena.