III Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão

ISSN 2594-6099

A RELAÇÃO ENTRE AS HISTÓRIAS DE MAFALDA E OS DIAS ATUAIS

Silva Júnior, Edvargue. A.; Borges, Clayton F. F.

- Eixo Temático 06 - Ciências Humanas

Resumo: O presente trabalho faz uso do gênero textual história em quadrinhos, entendida enquanto literatura de massa em função de atingir leitores de diversas classes sociais e destinada ao entretenimento desse público, para analisar duas tirinhas da personagem Mafalda que tratam de temas sociais a partir do contexto de sua criação, mas que ainda produzem sentido na sociedade do século XXI. Os temas escolhidos para serem tratados foram a desigualdade social e o papel da mulher na sociedade. Buscou-se a reflexão sobre esses temas a partir das preocupações e inquietações da personagem, que continuam sendo muito relevantes no contexto atual e permanecem sem solução. Embora o autor da personagem tenha cessado sua produção há alguns anos, Mafalda ainda continua como um clássico dos quadrinhos, por apresentar uma linguagem crítica e irônica sobre os problemas sociais. As reflexões da pequena garotinha contestadora dos quadrinhos ainda percorrem o mundo, agora tendo sua recepção exponenciada pelas redes sociais, demostrando não só o gosto pela personagem, mas as preocupações sociais que hoje continuam sendo problemas sem aparente solução.

Palavras-chave: História em Quadrinhos; Mafalda; Problemas sociais.

Abstract: The present work makes use of the textual genre comic, understood as mass literature in function of reaching readers of diverse social classes and destined to the entertainment of this public, to analyze two strips of the character Mafalda that deal with social themes from the context of their creation, but which still make sense in 21st century society. The subjects chosen to be treated were social inequality and the role of women in society. We sought to reflect on these themes based on the concerns and concerns of the character, which continue to be very relevant in the current context and remain unsolved. Although the character's author ceased production a few years ago, Mafalda still remains a comic book classic for presenting a critical and ironic language about social problems. The reflections of the little girl in the comic strips still roam the world, now having their reception exponenciada by social networks, demonstrating not only the taste for the character, but the social concerns that today remain problems without apparent solution.

Keys-word: Comics; Mafalda; Social problems.

Introdução

Há muitos anos as histórias em quadrinhos se fazem presente no cotidiano de muitos apreciadores, em sua maioria crianças e adolescentes que são introduzidas ao hábito da leitura através desse tipo de narrativa. No entanto, à medida que os anos escolares vão passando é natural que algumas crianças deixem de lado esse tipo de história e passem a ler outros tipos de obras, principalmente devido às mudanças de metodologias de ensino. Porém, muitos jovens e adultos continuam se envolvendo pelos temas trazidos nos quadrinhos sejam em gibis, tiras publicadas em jornais, em livros didáticos, em mídias sociais e outros meios de divulgação em massa, pois permeiam problemas relativos ao seu universo e campo de interesses.

Muitos autores como Stan Lee (escritor e editor do universo Marvel), Maurício de Sousa (criador da Turma da Mônica), Will Eisner (criador do detetive mascarado conhecido como o Spirit), Joaquín Salvador Lavado (criador das histórias da Mafalda), entre outros, são muito apreciados por esse público.

Algumas narrativas das Histórias em Quadrinhos são bem curtas e desenvolvidas em poucos quadros, apresentando geralmente uma temática de humor. Porém, esses textos também podem abordar temas de cunho social e político, o que é mais comum nos quadrinhos publicados em jornais, sendo assim mais acessíveis à população (as "massas"), e, por isso, atingindo uma quantidade maior de leitores. A constituição dessas Histórias se estabelece pela combinação de frases curtas, geralmente de efeito ambíguo, com desenhos que ilustram e complementam o sentido da mensagem.

Nesse sentido, a proposta desse artigo é utilizar o gênero textual História em Quadrinhos, entendida enquanto literatura de massa em função de atingir leitores de diversas classes sociais e destinada ao entretenimento desse público, para analisar duas tirinhas da personagem Mafalda que tratam de temas sociais a partir do contexto de sua criação, mas que ainda produzem sentido na sociedade do século XXI. Os temas escolhidos para serem tratados nesse trabalho foram a desigualdade social e o papel da mulher na sociedade buscando refletir sobre esses assuntos a partir das preocupações e inquietações da personagem Mafalda, que continuam sendo muito relevantes no contexto atual e continuam sem solução satisfatória.

A escolha da utilização desses temas nas tirinhas da personagem icônica de Quino se deu pela sua atualidade, uma vez que tematizam problemas sociais, culturais, econômicos e políticos que ainda representam demandas urgentes de uma parcela muito grande da população. É importante destacar que as tiras da personagem Malfada são o objeto de análise deste trabalho, na medida em que ao produzir humor por meio da ironia, entreve-se sua relevância e sua função social ao fomentar a reflexão sobre os corriqueiros fatos do cotidiano.

Materiais e Metódos

A escolha de investigar a personagem Mafalda nas produções de Quino foi devido à riqueza de reflexões que cada tirinha apresenta, permeando uma linguagem cômica e trágica por meio de um discurso contestador sobre inquietações acerca do mundo, compreendido nas metáforas que ela compõe para questionar os problemas da sociedade, aparentemente sem solução, que por vezes fogem do universo de uma criança da idade da personagem.

Diante disso, a proposta metodológica deste trabalho ancora-se no desenvolvimento de três etapas interdependentes. Numa primeira etapa foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a partir da reflexão teórica e exploratória sobre o gênero história em quadrinhos e o levantamento de dados biográficos do cartunista e das características da personagem Mafalda e sua amiga Susanita. Paralelamente à primeira, desenvolvemos uma segunda etapa fazendo o levantamento das tirinhas voltadas às temáticas sobre a desigualdade social e o papel da mulher na sociedade.

Na terceira etapa os dados coletados foram analisados de maneira detalhada de acordo com cada temática, produzindo um texto único na ordem em que as temáticas foram citadas na etapa anterior. As análises abrangeram as metáforas construídas pela personagem em sua relação com o contexto de produção, discutindo possíveis interpretações do sentido metafórico de cada tirinha. Ressaltamos que durante o processo de análise das tirinhas as imagens foram consideradas como parte integrante de todo o processo.

Referencial Teórico

O ato da leitura possui um grande poder de transformação em toda sociedade. Através da leitura o indivíduo torna-se capaz de entender o mundo que o cerca, compreender as informações que circundam seu contexto social e ainda abre a possibilidade de se tornar protagonista de sua própria história. Assim, a leitura é capaz de desenvolver no leitor uma consciência crítica do mundo no interior de um processo contínuo de formação e transformação, enquanto agente constitutivo da sociedade na qual está inserido.

No entanto, existe uma infinidade de possibilidades interpretativas sobre um mesmo texto, permitindo ao leitor estabelecer relações heterogêneas entre vários momentos históricos e culturas diferentes do seu contexto de produção original (SOUZA, 2002). Esses momentos históricos podem ser percebidos nas narrativas de textos literários também chamados de cânones literários e naquelas que se convencionou chamar de "Literatura de massa". Essa última, segundo Aranha (2009), é um meio de fazer literatura capaz de, dentre outros aspectos, atender às demandas da sociedade de consumo na contemporaneidade.

As narrativas conhecidas como "Literatura de massa", entendidas como uma nova forma de se fazer literatura, começou a serem difundidas a partir da segunda metade do século XVIII, e eram publicadas de maneira fracionada e impressas nos rodapés de jornais da época no espaço destinado ao entretenimento. Como eram publicadas em partes, caso a história agradasse ao público, outra parte da história era publicada na edição seguinte, e, assim por diante, conforme a aceitação dos leitores do jornal. Caso a história desagradasse o público, era substituída por outra história nas edições seguintes (ARANHA, 2002).

Essa literatura, destinada principalmente às camadas populares, surgiu na medida em que o sistema capitalista avançava, sobretudo a partir do período da Revolução Industrial, ocorrido pioneiramente na Inglaterra em meados do século XVIII. Com a ascensão da classe burguesa, constituindo novas demandas impulsionadas pelos anseios do mercado, marca-se assim o início de um novo modo de se fazer literatura, definida em oposição à literatura da elite e caracterizada pela simplificação da linguagem formal, e, dessa forma, sendo mais acessível à classe proletária.

A expansão desse novo modo de se fazer literatura por meio de uma linguagem simples (em oposição àquela considerada erudita), clara, objetiva e que retrata temas polêmicos extraídos da realidade socioeconômica, traz consigo algumas características que pressupõem a intencionalidade de cativar seu público através do uso vigoroso de personagens com características marcantes.

As produções de literatura popular nesse período tratavam de temas diversos, apresentavam regras específicas para a sua escrita e por meio de sua linguagem possibilitava a colocação em evidência de novos elementos, configurando na sociedade um novo tipo de leitor, estimulado pelo gosto e pelo hábito de ler de forma divertida e prazerosa. Assim, segundo Palhares (2009), o leitor era capaz de criar outros significados e novos valores que possuíam intensa relação com a cultura da época.

A partir do folhetim originaram-se outras formas de produção de literatura de massa e as Histórias em Quadrinhos é uma delas. No entanto, foi só a partir do século XIX, pensando no sentido moderno, que esse tipo de história enquanto forma de manifestação artística ganhou espaço tornando-se uma febre mundial ao conquistar não somente as crianças, mas também leitores de todas as idades devido às suas características bastante peculiares.

De acordo com Nascimento (2014, p. 247):

 

O universo das histórias em quadrinhos abrange várias formas, como as tiras, também conhecidas como tirinhas, os cartuns, charges, gibis, mangás e romances gráficos. Este tipo de narrativa é destinado a vários públicos-alvo, desde crianças a adultos. As temáticas variam desde aspectos do cotidiano, bem como humor, crítica, política, aventuras, poesia etc.

 

 

Assim, a leitura dessas narrativas enquadradas de forma sequencial é realizada por meio do código textual e visual, pois associam palavras e imagens que permitem a construção de sentido da história, e possibilita transformações de perspectivas. As Histórias em Quadrinhos ostentam uma possibilidade de comunicação através de questões relacionadas aos problemas cotidianos dos leitores.

Nesse sentido, por mais que seja possível contar uma história usando apenas sequências de imagens, é necessário que a concepção das histórias em quadrinhos compreenda algo além das técnicas de criação de linguagem não verbal, exatamente pelo fato delas funcionarem como um meio de informação, reflexão e problematização de temas sociais, políticos, culturais, econômicos, etc. Assim, a associação entre linguagem verbal e não verbal produz diferentes sentidos nos diversos contextos comunicativos dessas narrativas.

Resultados e Discussões

O criador da personagem Mafalda é o cartunista Joaquín Salvador Lavado, nascido no dia 17 de julho de 1932 na cidade de Mendoza, Argentina. Conhecido no universo das Histórias em Quadrinhos como Quino, recebeu o apelido ainda criança para diferenciá-lo de seu tio Joaquín Tejón. Seus pais eram espanhóis de Andaluzia, mas ambos faleceram quando Quino ainda era criança (WINGERT; MARTINS, 2017).

Quino criou sua personagem mais conhecida, Mafalda - que se tornou um ícone no mundo inteiro - originalmente em 1963 para a publicidade de uma marca local de eletrodomésticos nunca lançados. No ano seguinte, Mafalda aparece publicada em uma revista argentina fazendo um enorme sucesso. Até hoje continua sendo a história em quadrinhos latino-americana mais vendida do mundo. Por decisão do autor a última tirinha da personagem foi publicada em 1973 (QUINO, 2010).

A personagem é uma garotinha de seis anos, de classe média, inconformada com a situação do contexto mundial e vive questionando tudo e a todos ao seu redor, e, em função disso, colocando os adultos em situações constrangedoras. Tudo isso por meio de reflexões críticas às desigualdades sociais, sobre os direitos humanos, aos conflitos bélicos, ao uso abusivo do poder, ao papel social da mulher, ao capitalismo, à injustiça, a paz mundial entre outros temas que retratam a tensão social da época em que foram produzidas as tiras. Uma menina de opinião que busca respostas para seus questionamentos com seus pais e seus amigos de escola. Mafalda levanta polêmicas acerca de assuntos relacionados à situação do mundo, sonhando em consertá-lo.

Os questionamentos e ideias de Mafalda, que ama os Beatles, a democracia, os direitos das crianças e a paz e odeia sopa, armas, guerra e James Bond (NASSIF, 2014), parecem prever o futuro. No entanto, mais de cinquenta anos depois de sua criação, as críticas de Mafalda ainda se mostram muito atuais e os assuntos abordados em grande parte ainda são os mesmos problemas enfrentados pela sociedade da atualidade. A nosso ver, tais nexos de continuidade histórica podem serem vistos como indícios que explicam sua relevância no contexto contemporâneo.

Embora Quino tenha parado de produzir as tiras de Mafalda há 46 anos, ela ainda continua como um clássico dos quadrinhos, suas tiras apresentam uma linguagem irônica e profunda sobre a política e a sociedade. O olhar do autor diante dos fatos históricos ocorridos na Argentina, na própria América Latina e no mundo evidencia claramente o Universo vivido pela pequena garotinha. Nas narrativas dessa personagem, o cartunista traz sua preocupação diante deles. Por isso, é possível perceber nas tiras da personagem além da ironia e o humor, reflexões que permeiam o cômico e o trágico permitindo a diversão e a denúncia ao mesmo tempo.

Por meio de uma linguagem expressiva e de sentimentos convincentes a personagem Mafalda demonstra seu desejo de modificar a realidade em relação aos problemas que vivencia e que a preocupa. Através do rádio e da televisão avalia continuamente os conflitos sociais, políticos, culturais e econômicos do mundo durante a segunda metade do século XX, constatando que essas situações cotidianas parecem injustas e contraditórias diante de tudo que lhe é ensinado no dia a dia.

Mafalda não é somente uma personagem de quadrinhos, talvez seja a personagem mais importante na literatura de massas durante as décadas de 60 e 70 no contexto latino-americano, por contestar assuntos da sociedade, por não aceitar o mundo da forma como é, acabando por fim a levar o leitor a refletir sobre a sua realidade, e mais, à possuir esperança de um mundo melhor.

A leitura do diálogo abaixo entre as duas amigas evidencia o quanto Susanita está preocupada com suas aparências, representando tipicamente uma mulher burguesa que não está preocupada com os problemas do mundo.

 

FIGURA 1 – Desigualdade social – Quino (2003, p. 4).

 

A partir da leitura é possível observar o egocentrismo que Susanita apresenta, em perspectiva oposta à de Mafalda. Enquanto Susanita pensa em esconder os pobres para resolver o problema da pobreza, Mafalda possui uma visão mais humanista acerca dessa circunstância e se compadece da condição que essas pessoas estão submetidas, sem as mínimas condições necessárias para viverem dignamente.

As duas convergem ao ficarem com o coração apertado quando veem pessoas abaixo da linha da pobreza, expostos diante das dificuldades de se viver na rua. A diferença entre as duas se dá na solução do problema. Para Mafalda: "Deviam dar casa, trabalho, proteção, e bem-estar aos pobres!". Susanita diz que é necessário apenas: "escondê-los!".

Deste modo, Mafalda fica inconformada e chocada com a postura da amiga que acha que os problemas dos pobres são exclusivamente deles, adotando uma postura totalmente egocêntrica e alienada dos problemas socioeconômicos. A reflexão que a pequena garotinha faz demonstra mais uma vez os sentimentos de empatia e solidariedade para com o próximo e sua preocupação com os problemas que tornam o mundo um lugar de gritantes desigualdades sociais.

Ao constituir esse diálogo entre as amigas, Quino problematiza a condição da pobreza como sendo fruto do desemprego, da violência, da negligência e pela falta de interesse do próprio governo na instituição de políticas públicas que atendam as necessidades imediatas do povo, principalmente os menos favorecidos, valorizando assim a luta política pelo bem estar de todos dentro de um regime democrático.

É muito perceptível nas tiras em que essas duas personagens dialogam como há diferenças entre o que cada uma pensa acerca dos assuntos que debatem, entre eles, o papel da mulher na sociedade. No exemplo que se segue as duas amigas conversam sobre esse assunto apontando os seus pontos de vistas.

 

FIGURA 2 – Papel social da mulher – Quino (2003, p. 306).

 

A forma grotesca com que Susanita se expressa na tirinha 2 – dirigindo-se à Mafalda – representa seu descontentamento com a amiga, certamente por divergências relativas à visão de mundo representada por cada uma das personagens. Susanita que simboliza um estereótipo de mulher burguesa tradicional, sem autonomia, e, possivelmente sem a menor preocupação com os problemas sociais que a cerca, reforça a ideia de uma mulher submissa, tendo como maior desejo o de pertencimento a uma classe social elevada, a partir de um casamento com um marido rico, para assim ser dona de casa e se empenhar nos afazeres domésticos. Para ela, a mulher não se torna menos importante na sociedade por assumir esse papel. O pensamento da personagem é diametralmente oposto ao de Mafalda, que sempre reforça o ideário de mulher independente e bem informada que está preocupada com os problemas que assolam o mundo, uma realidade provavelmente não conhecida e/ou negligenciada por Susanita. Mafalda, por sua vez, não está nem um pouco interessada em reduzir seu escopo de atuação social ao ambiente doméstico/privado e com a futilidade de casar-se com um homem rico como única perspectiva de ascensão socioeconômica.

Susanita reproduz a tradicional concepção do papel social da mulher, marcada pela submissão e pelo silenciamento, demarcando um estereótipo de mulher dona de casa que desconhece e/ou ignora conscientemente os problemas do espaço público, concentrando-se exclusivamente nos problemas da vida doméstica e o papel da mulher enquanto mãe e esposa. Nesse sentido, sempre há um embate ideológico entre as duas amigas porque Mafalda traz consigo um novo discurso sobre a identidade feminina, suas aspirações e reivindicações. Para ela, a sociedade pode se reinventar e estabelecer algo novo (SILVA, 2011).

Destarte, as divergências ideológicas apresentadas por meio das duas personagens de Quino ainda estão muito presentes na sociedade contemporânea, e ainda parecem estar longe de qualquer negociação e consenso, mesmo que precário. Em que pese a luta pela igualdade de gênero ter se iniciado muito tempo antes, ganhando grande impulso durante o período de sua criação e publicação (os anos 60 e 70), essa pauta e as lutas se intensificaram entre o final do século XX e inicio do século XXI. Assim como permanece necessária na atualidade, tendo em vista os inúmeros preconceitos ainda sofridos pela figura feminina que se materializam através da continuidade histórica de uma cultura patriarcal, e por um discurso machista, mesmo hoje havendo uma participação mais ampla da mulher no mercado de trabalho, além da ampla disseminação dos valores que defendem a igualdade de gênero em todas as esferas da vida e maiores chances de realização pessoal e profissional, a atualidade das tirinhas de Mafalda parece indicar que muito ainda há de ser feito no sentido de conectar as mudanças culturais no âmbito das ideias e valores para o âmbito da vida prática cotidiana (AZEVEDO et. al., 2016, p. 2).

Conclusão

O presente trabalho buscou trazer reflexões acerca de alguns problemas sociais que são discutidos nas tiras cômicas da personagem Mafalda, a menina esperta que encantou e ainda encanta a todos pela sua irreverência ao pensar de maneira crítica os problemas socioeconômicos de seu tempo e em tentar resolvê-los, mesmo com tenra idade. O humor trazido em cada tira se dá pela quebra de expectativas e estereótipos a respeito do comportamento infantil. Ou seja, além de representar uma determinada sociedade, Mafalda preocupa-se com toda a humanidade a partir das suas inquietações acerca de problemas que atingem sua infância, ao mesmo tempo em que indicam os conflitos sociais e angústias pessoais que os indivíduos enfrentam ao longo da história, sobretudo com a progressiva mudança de costumes na sociedade contemporânea (SVITRAS, 2017). A criticidade dessa menina de classe média pelos olhos do autor demonstra claramente que apesar de criança, nunca agiu ou foi vista de tal forma.

Contudo, apesar das tiras da personagem ter sido produzida entre as décadas de 1960 e 1970 os temas abordados pelo autor ainda continuam ecoando na atualidade quando toca em questões que ainda não foram solucionadas. Sua atualidade se torna mais evidente ao percebermos nas tiras contextos de vivências e de angústias que ainda persistem no tempo. Questões relativas às desigualdades sociais, econômicas, de gênero, ao racismo, e infinitos problemas de ordem política. Por isso, os questionamentos feitos pela personagem há mais de 50 anos parecem “atemporais” e com boas doses da atualidade.

As reflexões da pequena garotinha contestadora dos quadrinhos ainda percorrem o mundo, agora pelas redes sociais. Os quadrinhos, entretanto, deixaram de serem produzidos em meados dos anos 1970, porém, ainda mostram não só o gosto pela personagem, mas as preocupações que hoje continuam sendo problemas. Suas verdadeiras e honestas preocupações continuam mais atuais do que nunca, pois inspiram o pensamento e a reflexão crítica sobre problemas do presente, e muitos sem qualquer perspectiva de uma solução à curto e médio prazo.

Referências

ARANHA, G.; BATISTA, F. Literatura de Massa e de Mercado. Revista Contratempo, Niterói, n. 20, Ago. 2009. (121-131).

 

AZEVEDO, N.; SILVA, C. S. ; COSTA, E. M. A. ; CAVALCANTI, M. C. G. P. . O discurso feminista em tiras da Mafalda à luz da Análise do Discurso de linha francesa (AD). Interletras (Dourados), v. 24, p. 01-12, 2016.

 

NASCIMENTO, G. C. T. N. Clássicos da Literatura em Quadrinhos: Uma Análise do Ponto de Vista da Tradução Intersemiótica. 2014. Cultura & Tradução. João Pessoa, v. 3, n. 1, 2014 (247-259)

 

NASSIF, L. Mafalda, que ama os Beatles e odeia sopa, chega aos 50 anos. 2014. Disponível em: <https://jornalggn.com.br/memoria/mafalda-que-ama-os-beatles-e-odeia-sopa-chega-aos-50-anos/>. Acesso em: 05 mai. 2019.

 

PALHARES, M. C. História em quadrinhos: uma ferramenta pedagógica para o ensi-no de história. Dia a Dia Educação-Governo do Paraná, p. 1-20, 2009. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2262-8.pdf>.  Acesso  em: mai 2019.

 

QUINO, J. L. Toda Mafalda: da primeira a última tirinha. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

 

__________. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 

__________. Toda Mafalda. 2ª edição. São Paulo, Martins Fontes, 2010.

 

RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2010.

 

SILVA, A. C. S. Palavra, voz e imagem:a representação feminina em Mafalda, de Quino. 2011. Disponível em: <https://docplayer.com.br/60125413-De-quino-campina-grande-pb.html>. Acesso em: mai, 2019.

 

SILVA, F. M. "Mafalda e o simbólico da sopa". Linguasagem (São Paulo), v. 1, p. Artigo de IC, 2009.

 

SOUZA, D. F. S.. A influência da literatura de massa na formação do leitor adolescente. In: Anais do III Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil, 2012, Porto Alegre. III Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil, 2012.

 

SVITRAS, C. A. Conheça mais sobre a Mafalda. 2017. Disponível em: <http://conhecimentoliteratura.com.br/conheca-mais-sobre-a-mafalda/>. Acesso em: mai, 2019.

WINGERT, V. D.; MARTINS, J. F. . Do Universo dos Quadrinhos a Sala de Aula: Mafalda À Aula de História. Gestão Universitária, v. 7, p. 1-25, 2017.

Agradecimentos

Instituição

Universidade Federal de Mato Grosso; Escola Estadual Professora Renilda Silva Moraes.

Silva Júnior, Edvargue. A.; Borges, Clayton F. F. . A RELAÇÃO ENTRE AS HISTÓRIAS DE MAFALDA E OS DIAS ATUAIS. In: III Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão, 2019, Campus Rondonópolis. Anais do Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão. IFMT: Rondonópolis, 2019. Disponível em: < https://eventos.ifmt.edu.br/publicacao/538/ >. Acesso em: 06 May. 2024.

Emitido pelo Sistema em 06/05/2024 02:44:55. Pode ser consultado em endereço: https://eventos.ifmt.edu.br/publicacao/538/.